“A vida pessoal vale muito mais do que um algoritmo”.

(Papa Leão XIV)

Entre os dias 11 e 12 de setembro, aconteceu o 2º Congresso de Comunicação da Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB Nacional), promovido pelo Setor de Comunicação da CRB Nacional, sob a coordenação da Irmã Neusa Santos, Assessora de Comunicação. O evento foi realizado na Faculdade Santa Marcelina, em São Paulo/SP, e reuniu religiosos, religiosas, leigos, leigas, comunicadores e especialistas para refletir sobre a comunicação no contexto da Igreja da vida consagrada e da sociedade.

O tema central foi: “Inovação, Inteligência Artificial e Estratégias Institucionais”. Da nossa Congregação, participaram eu, Irmã Luciana Flávia, e a Irmã Maria de Fátima de Carvalho.

O Congresso contou com conferencistas reconhecidos e atualizados na área de comunicação, cujas falas despertaram grande interesse e trouxeram importante atualização para o nosso conhecimento no âmbito digital.

A primeira palestra foi ministrada pela Dra. Nataša Govekar, Diretora Teológica do Dicastério para a Comunicação do Vaticano. Ela destacou a importância de verificar as fontes antes de compartilhar informações, mesmo quando vindas de pessoas de confiança, lembrando que a credibilidade pessoal não substitui a verificação dos fatos. Ressaltou ainda a necessidade de contribuir para que o ambiente digital seja mais humano e menos tóxico. Incentivou-nos a narrar nossas histórias à luz de Jesus, como no caminho de Emaús, de modo que nossas palavras façam arder o coração de quem as escuta. Para ela, comunicar é transmitir uma experiência viva. Finalizou sua fala lembrando que a presença da Igreja e dos cristãos no espaço digital deve buscar equilíbrio, evitando excessos e riscos, e encorajou: “Contem a própria história de vocês.”

Na sequência, o Dr. Kleberson Rodrigues, consultor da UNESCO para Educação, especialista em Desenvolvimento Humano, doutor e mestre em Estratégia, falou sobre o papel da liderança no mundo digital. Abordou os desafios da inteligência artificial e das novas tecnologias, especialmente para Instituições e Congregações católicas. Segundo ele, não é mais possível ignorar a realidade da IA: ou aprendemos a lidar com ela, ou seremos engolidos por ela. Destacou que somos chamados a ser também “laboratórios digitais de humanidade”, em sintonia com a fala da Irmã Maria do Desterro Rocha, presidente da CRB Nacional, que reforçou a necessidade de vivermos a Inteligência Afetiva, mais do que apenas a Artificial.

A Irmã Nina Krapić, especialista em comunicação pelo Vaticano e doutoranda em comunicação social pela Pontifícia Universidade Gregoriana, refletiu sobre a Vida Religiosa Consagrada no ambiente digital. Destacou que as redes sociais não podem ser usadas apenas para divulgação, mas como espaços de testemunho, diálogo e proximidade. Ressaltou que a autenticidade gera confiança e aproxima corações. Sublinhou ainda a importância do silêncio, da escuta e de narrativas que sejam capazes de transformar vidas. Lembrou que as publicações de religiosos devem ser coerentes com sua vocação e testemunho.

O Paulo Moregola, comunicador e especialista em comunicação institucional, possui uma vasta experiência institucional, marketing e cultura. Trouxe reflexões sobre a comunicação estratégica com os diversos públicos das instituições. Lembrou que a escuta ativa é fundamental para o engajamento e que a estratégia de comunicação não está em inventar, mas em mostrar, com clareza e verdade, aquilo que já acontece. Enfatizou que a sinodalidade é justamente abrir espaço para o diálogo que constrói a paz.

O Dr. Lindolfo de Alexandre Souza, decano da Escola de Linguagem e Comunicação da PUC-Campinas, doutor e mestre em Ciências da Religião, com formação em Jornalismo e Ciências Religiosas, falou sobre as linguagens e os contextos culturais na construção das narrativas institucionais, destacando a importância de compreender a diversidade cultural no processo comunicativo da Igreja.

Já a Dra. Aleluia Heringer, doutora e mestre em Educação, trouxe uma profunda reflexão sobre o cuidado com a Casa Comum. Lembrou que reduzir as emissões de carbono é fundamental para manter o aquecimento global abaixo de 1,5ºC e ressaltou a força da comunicação para despertar consciência e esperança diante da crise climática. Explicou que seus impactos não atingem a todos da mesma forma e que a verdadeira transição sustentável começa nas pequenas escolhas cotidianas, nos hábitos e no estilo de vida.

A Dra. Rosângela Florczak, referência nas áreas de cuidado, crise e ética, falou sobre a Gestão de Crises na Comunicação Digital em Instituições Religiosas. Lembrou que, mesmo nos momentos de conflito, a missão evangelizadora permanece. Ressaltou que prevenir é também um gesto de cuidado e que a comunicação em cenários de crise deve ser entendida não apenas como contenção de danos, mas como uma oportunidade de fortalecer a missão da Igreja. Para ela, uma boa gestão depende de uma boa comunicação, feita com clareza e direcionada às pessoas certas.

Encerrando o Congresso, a Maria Cristina Machado Domingues, doutora em tecnologia digital e referência nacional em Inteligência Artificial e inovação, apresentou os impactos e limites da IA na vida da Igreja. Mostrou como algumas ferramentas podem contribuir para a evangelização, mas alertou para os riscos éticos e para a necessidade de preservar as relações humanas. Enfatizou a importância do discernimento e do senso crítico diante das publicações nas redes, para que a evangelização não se reduza a mero marketing religioso.

De fato, o Congresso trouxe à tona reflexões atuais e necessárias sobre o uso das redes sociais, a inteligência artificial e seus impactos na vida cristã, na evangelização e na Vida Religiosa Consagrada. As partilhas ajudaram a pensar o papel do comunicador religioso e a necessidade de narrativas digitais que transmitam amor, bondade e misericórdia, capazes de tocar corações e despertar esperança.

Oxalá possamos ser comunicadoras da verdadeira fraternidade e da esperança que não decepciona!

Irmã Luciana Flavia Gonçalves